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domingo, 30 de maio de 2010

Vasculhando minhas coisas achei esse texto de Augusto Boal, lembro que gostei muito na época, decidi repartir com vocês.

17 de Outubro, Rio de Janeiro

Caros Companheiros,

eu quero lembrar àqueles que são da minha idade - e quero revelar
aos menorzinhos -, que errar faz muito bem à saúde... desde que se
aprenda. Nós aprendemos muito, aprendemos que não podemos continuar
errando os mesmos erros que erramos no nosso passado político. Nunca
mais os erros de 64: nunca mais a divisão.
Como cada um de nós é uma unicidade, é natural que, mesmo quando
pensamos a mesma coisa, pensemos essa mesma coisa de forma
diferente. Cada gêmeo, cada família, cada torcedor de um mesmo time,
cada membro de uma mesma associação antifascista, cada militante de
cada partido político de esquerda, por mais que tenha, com os
demais, um sólido denominador comum, pensa de forma diferente a
mesma coisa igual. Isso é maravilhoso, é assim que se avança:
cotejando opiniões, dialogando entre companheiros, manifestando
dúvidas e hesitações.
Mas tem um porém: vezes há em que o combate se dualiza e o
mundo se divide em duas metades: não existe terceira metade, não
existe a terceira margem do rio. É lá ou cá. É este esse momento: ou
cá ou lá!
Em 1964, a esquerda se dividiu em ALN, PC do B, Var-Palmares, MR8,
PCR e outros: um mais à esquerda, outro menos à esquerda; um, um
pouco mais ou menos à esquerda, outro menos ou mais; uma esquerda
assustada, timorata e temerosa, outra afoita, destemida e corajuda.
Eram tantas divisões e dissidências, dissidências das divisões e
divisões das dissidências, divisões das divisões e dissidências das
dissidências, que, nós, a maioria, que éramos todos contra a
ditadura mas estávamos divididos, atomizados, nós fomos vencidos.
Todos. Perdemos para uma ditadura sólida, que também tinha nuances,
inimizades, conflitos econômicos, mas que eram todos ditadores.
Hoje, só eu penso como eu, só Lula pensa como Lula, só cada
um de nós pensa como cada um. Mas, mesmo pensando diferente, todos
pensamos a mesma coisa: temos que derrotar esses adversários. Não
para que sejamos os vencedores, - não há medalhas a distribuir, nem
taças nem troféus - mas para que vença o povo brasileiro. Não por
nossa causa, ou não apenas, mas pela causa dos países irmãos nossos
vizinhos, pela causa dos países escravizados da África e de toda
parte, globalizados, fagocitados pela potência hegemônica que
dissemina a guerra inclemente e a pilhagem desavergonhada. Não por
nossa causa, ou não apenas, mas pela causa dos pobres e miseráveis
brasileiros e do mundo inteiro, inclusive dos países ricos, pois que
lá também existem oprimidos, humilhados e ofendidos.
Não somos nós que radicalizamos: é a direita! Hoje, nós
estamos diante de uma direita canibal - no sentido figurado, pois
come as riquezas do Brasil, privatizando, privatizando,
privatizando -, e no sentido literal, como aconteceu domingo no
Leblon, quando alguns fascistas comeram um dedo de uma militante
petista. E tiveram a sem-vergonhice de dizer que o comiam para que
ela tivesse no corpo a marca do Lula… E eu digo: se fosse necessário
marcar no corpo a sua ideologia, então a direita teria que cortar,
não um dedo, mas a cabeça.
Eu não quero dizer nem peço, eu não peço nem penso que
devemos esquecer as diferenças que temos. Temos que vencer a
direita, sim, mas temos que continuar mobilizados depois da vitória.
Para vencer a direita não basta que nele votem todos os que são de
esquerda; é preciso que toda a esquerda vote no Lula, mas é preciso
também que votem nele todos aqueles que não são de direita: são
esses que devemos conquistar. Temos que votar e multiplicar!
Na primeira posse de Lula houve um acidente e um incidente
que ficaram gravados nos olhos da minha memória. O acidente foi o
carro onde estava Lula quando ia tomar posse. O calhambeque, bonito
carro de coleção, subia uma ladeirinha quando morreu o motor. O
risco era que voltasse tudo pra trás, ladeira abaixo, com Lula
dentro. O povo, o querido povão que estava lá, não hesitou: empurrou
o carro que subiu ladeira acima e o povo ficou só olhando o carro
que se afastava.
Depois da posse, aconteceu o incidente: o povo queria ver de perto,
abraçar o presidente, mas tinha pela frente um espelho d´água. Outra
vez o povão não hesitou e, vestido como estava, mergulhou n´água, e
foi lá para o palácio encharcado, pingando peixinho dourado, foi
abraçar Lula, ou ver de perto.
Hoje, mais uma vez, mais do que nunca, não podemos hesitar:
temos que mergulhar no espelho d´água, temos que empurrar o carro
montanha acima, e temos que continuar empurrando depois da vitória,
empurrando sempre, porque não é justo deixar que um homem só faça o
trabalho que compete ao povo inteiro.
Nossa maior emoção política foi no dia em que paramos de gritar Lula
Presidente e pudemos gritar Presidente Lula. Ele foi eleito, mas
fomos nós que gritamos.
Lula, nós sempre estivemos do teu lado e, hoje, mais do que
nunca, estamos com você! Mas de nós, Lula, você nunca mais vai se
livrar. Assim seja!


* * *

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