Não estou sequer à espera que me deixes ver através dos teus olhos,
nem sei tampouco se quero ver o que vêem e do modo como vêem os teus olhos.
Nada do que possas ver me levará a ver a pensar contigo
se eu não for capaz de aprender a ver pelos meus olhos e a pensar comigo.
Não me digas como se caminha e por onde é o caminho,
deixa-me simplesmente acompanhar-te quando eu quiser,
se o caminho dos teus passos estiver iluminado pela mais cintilante das estrelas que espreitam as noites e os dias.
Mesmo que tu me percas e eu te perca,
algures na caminhada certamente nos reencontraremos.
Não me expliques como deverei ser,
quando um dia as circunstâncias quiserem que eu me encontre no espaço e no tempo de condições que tu entendes e dominas.
Semeia-te como és e oferece-te simplesmente à colheita de todas as horas.Não me prendas as mãos,não faças delas instrumento dócil de inspirações que ainda não vivi.
Deixa-me arriscar o molde talvez incerto,
deixa-me arriscar o barro talvez impróprio,
na oficina onde ganham forma e paixão todos os sonhos que antecipam o futuro.
E não me obrigues a ler os livros que eu ainda não adivinhei,
nem queiras que eu saiba o que ainda não sou capaz de interrogar.
Protege-me das incursões obrigatórias que sufocam o prazer da descoberta e com o silêncio (intimamente sábio) das tuas palavras e dos teus gestos .
ajuda-me serenamente a ler e a escrever a minha própria vida.
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