Quero escrever o borrão vermelho de sangue
Quero escrever o borrão vermelho de sangue com as gotas e coágulos pingando de dentro para dentro.
Quero escrever amarelo-ouro com raios de translucidez.
Que não me entendam, pouco-se-me-dá.
Nada tenho a perder.
Jogo tudo na violência que sempre me povoou,o grito áspero e agudo e prolongado,o grito que eu,por falso respeito humano,não dei.
Mas aqui vai o meu berro me rasgando as profundas entranhas de onde brota o estertor ambicionado.
Quero abarcar o mundo com o terremoto causado pelo grito.
O clímax de minha vida será a morte.
Quero escrever noções sem o uso abusivo da palavra.
Só me resta ficar nua : nada tenho mais a perder.
Clarice Lispector
domingo, 1 de fevereiro de 2009
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